Saímos de Palas del Rey, pela estrada principal, entrando de imediato nos caminhos rurais e por vezes em estradas secundárias… tantos peregrinos a pé… passámos em San Xulián, Casanova, Laboreiro (primeira localidade da Coruña) e Furelos, onde iniciámos a 1ª subida do dia para chegar a Melide. Aqui confluem o Caminho Primitivo com o Francês, vindo de Oviedo.
De Melide a Arzúa avançámos por caminhos entre espessos bosques de carvalhos, pinheiros e eucaliptos, cruzando, atravessando ribeiros num contínuo sobe e desce… Em Arzúa, conflui o Caminho do Norte com o Francês. Continuamos num sobe e desce em florestas com trilhos extensos, sem passar em qualquer aldeia ou cidade com serviços… entretanto surgiu à beira da estrada um bar, Casa Verde, que deu para recuperar forças e alimentar o espírito… continuando na nacional passamos por Boavista, Salceda chegámos ao Alto de Santa Irene.
Iniciámos uma descida longa, passando nas cidades Rua e Pedrouzco, aqui é a última população, que a maioria dos peregrinos a pé utiliza para passar a última noite, pois dista só 20km de Santiago. O ritmo começa a aumentar, estamos quase, mas o sobe e desce continua… passámos em Amenal, Cimadevila. Como o próprio nome indica… mais uma subida longa, mas suave… continuamos a cruzar com imensos peregrinos, tanto a pé como de bike. Chegamos a Labacolla, através de um trajecto, circundando o seu aeroporto (o maior de Galiza) deixando-o na esquerda descendo para San Paio e chegando a Labacolla urbanizada, começando a subir para o Monto do Gozo… por uma estrada secundária, passando junto às antenas de várias rádios/tv espanholas.
Chegados ao Monto de Gozo… tirámos as fotos da praxe, mais uma vez, e foi num misto de alegria e um nó da garganta que avistámos Santiago e as torres da Catedral… estava tão perto… ao fim de mais de 800km… carimbámos a credencial na Ermida de S. Marcos e iniciámos a descida para Santiago.
Chegámos a Santiago entusiasmados, entrando pela Praça del Obradoiro, no sopé da majestosa Catedral de Santiago de Compostela. Tínhamos CONSEGUIDO! Sorrisos, com pequenas lágrimas a correr no rosto… era assim a nossa alegria ao fim de cerca de 890Km (marcados no meu conta quilómetros)… tirámos fotos e mais fotos.
De imediato fomos levantar a Compostela, certificado que dava como concluída a peregrinação pelo Caminho Francês.
Como este ano, é ano Jacobeo, o túmulo do apóstolo Santiago, encontra-se aberto a todos os visitantes e peregrinos.
Após a visita à Catedral, com todos esses rituais significaram para mim o FIM, para o que se tornou sem dúvida um dos momentos mais emocionantes e memoráveis da minha vida.
Depois, fomos tratar da vinda para Portugal. Após várias hipóteses, decidimos vir de táxi para o Porto e aí cada um apanhar um comboio para as suas residências.
Como sabem, o Caminho Francês, é um dos caminhos mais importantes que nos leva a Santiago de Compostela. Existem mais, e aqui fica o desafio, com a certeza que outros irei fazer… quando? Não sei… mas a vontade já é uma realidade…
Transcorridos praticamente dois meses da minha chegada de Santiago, confesso que o Caminho ainda permanece indelevelmente impregnado na minha memória. O eco das emoções lá vividas persistem a reverberar no meu espírito.
Compreendi, no fundo, que somos todos viajantes efémeros, e o importante é que aproveitemos esses bons momentos que nos são oferecidos. Santiago proporcionou-me um caminho sem percalços, agradeço-lhe pelos incontáveis instantes mágicos vividos ao longo do Caminho, com a mente repleta de inesquecíveis lembranças boas, que só el Camiño nos pode proporcionar.
Bem sei, que nem tudo no Caminho foram flores. Para superar as dificuldades e suportar as dores físicas, precisei de firmeza nos meus propósitos. Foi também um período de intensa aprendizagem interior, onde compartilhar era o verbo mais conjugado, e solidariedade, a palavra que reputo como a mais indicada para resumir o que de melhor vivi nesta aventura.
O verdadeiro Caminho de cada um, começa realmente quando retornamos a casa. Voltei mais forte com a razão, porque quem se propôs vencer 800 e tal quilómetros sob tantas dificuldades, pode superar com serenidade os obstáculos que nos são impostos no dia-a-dia.
Voltei mais optimista em relação ao “Caminho da Vida”. No fundo, o Caminho acaba sendo um pretexto para mudanças, para uma grande reviravolta de rumos, sonhos e aspirações, sacudindo a poeira do tédio e da rotina sufocante do nosso quotidiano, que tanto nos angustia, sufoca e limita.
Por isso, mais do que nunca, tenho a certeza de que ao fazer este Camiño, foi uma das decisões mais acertadas que tomei na minha vida e aí agradeço o convite do Didier.
Agradeço, aos meus companheiros e amigos, aos que me acompanharam, aos que me motivaram, aos que seguiram de perto o desenrolar das etapas, aos que agora lêem estes textos… o meu OBRIGADO.
Fotos da etapa aqui >>
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