quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Fé move montanhas....

O amigo Pedro Guedes (PGuedes) iniciou o caminho connosco, no entanto por motivos profissionais deixou-nos em Astorga.
Como ficou encantado pelo Camiño, na primeira oportunidade(passado um mês)voltou e iniciou-o precisamente no mesmo local onde o "abandonou"... há dias vi as suas fotos e revi-me novamente no Camiño... deixando-me com "água na boca"...

Foi ao ver o álbum dele que fiquei estupefacto... e após lhe pedir autorização, aqui deixo uma das suas fotos... para nos fazer meditar... a força (fé) que o caminho nos transmite...

"a fé move montanhas"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Etapa 8 - Palas del Rey - Santiago de Compostela

Última etapa… acordámos cedo… queríamos chegar rápido a Santiago… tomámos o “último pequeno-almoço” numa das pastelarias da cidade… neste dia vestimos os equipamentos a condizer com a chegada… eu vesti o dos Papa-léguas… dentro de mim sentia que estava próximo do fim este desafio… fazer o Caminho Francês…

Saímos de Palas del Rey, pela estrada principal, entrando de imediato nos caminhos rurais e por vezes em estradas secundárias… tantos peregrinos a pé… passámos em San Xulián, Casanova, Laboreiro (primeira localidade da Coruña) e Furelos, onde iniciámos a 1ª subida do dia para chegar a Melide. Aqui confluem o Caminho Primitivo com o Francês, vindo de Oviedo.

De Melide a Arzúa avançámos por caminhos entre espessos bosques de carvalhos, pinheiros e eucaliptos, cruzando, atravessando ribeiros num contínuo sobe e desce… Em Arzúa, conflui o Caminho do Norte com o Francês. Continuamos num sobe e desce em florestas com trilhos extensos, sem passar em qualquer aldeia ou cidade com serviços… entretanto surgiu à beira da estrada um bar, Casa Verde, que deu para recuperar forças e alimentar o espírito… continuando na nacional passamos por Boavista, Salceda chegámos ao Alto de Santa Irene.

Iniciámos uma descida longa, passando nas cidades Rua e Pedrouzco, aqui é a última população, que a maioria dos peregrinos a pé utiliza para passar a última noite, pois dista só 20km de Santiago. O ritmo começa a aumentar, estamos quase, mas o sobe e desce continua… passámos em Amenal, Cimadevila. Como o próprio nome indica… mais uma subida longa, mas suave… continuamos a cruzar com imensos peregrinos, tanto a pé como de bike. Chegamos a Labacolla, através de um trajecto, circundando o seu aeroporto (o maior de Galiza) deixando-o na esquerda descendo para San Paio e chegando a Labacolla urbanizada, começando a subir para o Monto do Gozo… por uma estrada secundária, passando junto às antenas de várias rádios/tv espanholas.

Chegados ao Monto de Gozo… tirámos as fotos da praxe, mais uma vez, e foi num misto de alegria e um nó da garganta que avistámos Santiago e as torres da Catedral… estava tão perto… ao fim de mais de 800km… carimbámos a credencial na Ermida de S. Marcos e iniciámos a descida para Santiago.

Chegámos a Santiago entusiasmados, entrando pela Praça del Obradoiro, no sopé da majestosa Catedral de Santiago de Compostela. Tínhamos CONSEGUIDO! Sorrisos, com pequenas lágrimas a correr no rosto… era assim a nossa alegria ao fim de cerca de 890Km (marcados no meu conta quilómetros)… tirámos fotos e mais fotos.

De imediato fomos levantar a Compostela, certificado que dava como concluída a peregrinação pelo Caminho Francês.

Como este ano, é ano Jacobeo, o túmulo do apóstolo Santiago, encontra-se aberto a todos os visitantes e peregrinos.

Após a visita à Catedral, com todos esses rituais significaram para mim o FIM, para o que se tornou sem dúvida um dos momentos mais emocionantes e memoráveis da minha vida.

Depois, fomos tratar da vinda para Portugal. Após várias hipóteses, decidimos vir de táxi para o Porto e aí cada um apanhar um comboio para as suas residências.

Como sabem, o Caminho Francês, é um dos caminhos mais importantes que nos leva a Santiago de Compostela. Existem mais, e aqui fica o desafio, com a certeza que outros irei fazer… quando? Não sei… mas a vontade já é uma realidade…

Transcorridos praticamente dois meses da minha chegada de Santiago, confesso que o Caminho ainda permanece indelevelmente impregnado na minha memória. O eco das emoções lá vividas persistem a reverberar no meu espírito.

Compreendi, no fundo, que somos todos viajantes efémeros, e o importante é que aproveitemos esses bons momentos que nos são oferecidos. Santiago proporcionou-me um caminho sem percalços, agradeço-lhe pelos incontáveis instantes mágicos vividos ao longo do Caminho, com a mente repleta de inesquecíveis lembranças boas, que só el Camiño nos pode proporcionar.

Bem sei, que nem tudo no Caminho foram flores. Para superar as dificuldades e suportar as dores físicas, precisei de firmeza nos meus propósitos. Foi também um período de intensa aprendizagem interior, onde compartilhar era o verbo mais conjugado, e solidariedade, a palavra que reputo como a mais indicada para resumir o que de melhor vivi nesta aventura.

O verdadeiro Caminho de cada um, começa realmente quando retornamos a casa. Voltei mais forte com a razão, porque quem se propôs vencer 800 e tal quilómetros sob tantas dificuldades, pode superar com serenidade os obstáculos que nos são impostos no dia-a-dia.

Voltei mais optimista em relação ao “Caminho da Vida”. No fundo, o Caminho acaba sendo um pretexto para mudanças, para uma grande reviravolta de rumos, sonhos e aspirações, sacudindo a poeira do tédio e da rotina sufocante do nosso quotidiano, que tanto nos angustia, sufoca e limita.

Por isso, mais do que nunca, tenho a certeza de que ao fazer este Camiño, foi uma das decisões mais acertadas que tomei na minha vida e aí agradeço o convite do Didier.

Agradeço, aos meus companheiros e amigos, aos que me acompanharam, aos que me motivaram, aos que seguiram de perto o desenrolar das etapas, aos que agora lêem estes textos… o meu OBRIGADO.

Bom Caminho a todos! Ultreya!



Fotos da etapa aqui >>

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Etapa 7 - Trabadelo - Palas del Rey

Após uma noite bem repousada, e um pequeno-almoço bem preparado pela Esperanza, depois de lhe dizermos que iríamos a subir o Cebrero, pelo caminho dos peregrinos pedestrianistas… chamou-nos de “loucos”… coisa impossível… ela, que tinha feito no ano passado, lhe custou imenso, quando mais em cima de uma bike…

Eu pessoalmente, pensei… “ai ai… vai custar”… mas o espírito peregrino é superior… e respondi… “vamos pois… depois mandaremos uma foto com a prova que o subimos de bike”…

E foi neste espírito que nos fizemos à estrada pelas 07h30… pouco depois de Vega de Valcarce iniciámos a mítica e magnífica subida a O Cebreiro, ao som do rio com o mesmo nome (Valcarce)… passámos pelos primeiros peregrinos (ainda em zona de asfalto)uns a subir e um outro com o seu cavalo em sentido contrário. A subida começa por entre um bosque fresco e bonito, com algumas partes bastante dura e técnica, mas sem dúvida, inolvidável.

Durante a subida passámos por várias e pequenas aldeias, Las Herrerías, La Faba e Laguna de Castilla, antes da entrada vitoriosa no precioso povo de O Cebrero (a 1.300m de altitude), o primeiro de Galiza, a terra prometida do peregrino. Pelas fotos pode-se testemunhar a beleza do trajecto… por vezes, e esta não foi a primeira vez, fiquei com a sensação de estar bem perto daquilo que designamos por Céu.. pelo silêncio, é uma beleza única… em que a única coisa que nos liga à realidade é a indicação das setas amarelas… que nos dizem… “segue… buen camiño”… cada vez mais “altos”… encontrámos um peregrino italiano e ficou estupefacto, quando viu três loucos na sua persistência… aproveitámos para nos tirar uma foto.

O suor persistia em arder nos olhos… pouco a pouco fomos sendo engolidos pelo nevoeiro que envolvia o cimo de Cebrero… indicação que estamos “quase”… mais peregrinos encontrámos… uns sorriam outros só nos olhavam, como que dizendo… é duro… e chegámos… envolvidos num nevoeiro frio, com um largo sorriso nos lábios, …tínhamos conseguido!! Entrámos de imediato na igreja, talvez numa inconsciência, agradecendo pelo feito, ao som dos cânticos gregorianos, carimbámos a credencial, vimos a arquitectura espectacular desta pequena igreja, bem como o casario que a envolvia… entretanto, entrámos num pequeno bar para beber um cacau bem quente… porque de repente o suor passou a ser um frio desconfortável.

Aqui tive a sensação que o resto do camiño seria menos difícil… e que Santiago estava “perto” e foi com este pensamento que à mesma altitude, passámos por Linares, Hospital da Condessa, Padornelo, e de repente Alto de Poio… uma subida dura, mas curta, onde tirámos uma foto junto à estátua do peregrino (Alto de S. Roque).

Mais à frente chegámos a Fonfría, lugar onde iniciámos a longa descida a Tricastela, população situada a 650 metros de altitude, onde almoçámos o tradicional prato espanhol de polvo. À saída de Tricastela optámos pelo trajecto que passa pelo vale de San Xil na direcção de Sarria. A partir daqui, começámos a desfrutar a intensidade da Galiza rural, profunda e mágica. À saída de Tricastela, temos logo o Alto del Riocabo, que se ultrapassou sem grandes dificuldades, encontrando caminhos rurais, de terra e estradas secundárias. Aqui começámos a sentir aquele cheiro intenso e persistente de vacas que se encontram a pastar nos campos de Galiza. É neste ambiente de floresta que vamos passando por pequenas aldeias sem qualquer tipo de serviços, só aqui e ali é surgiam habitantes na sua azáfama rural. Antes de chegarmos à importante cidade de Sarria, passámos ainda em Montán, Furela, Calvor e San Mamede.

Foi em Sarria que encontrámos um português, que nos cumprimentou e após nos desejar um “buen camiño” disse-nos que estava a fazer o Caminho Francês em sentido inverso, desde Santiago até Saint Jean Pied du Port.

A saída de Sarria, continuamos no mesmo tipo de caminhos rurais, entre muros de pedra, onde vemos as vacas nas suas pastagens. Aqui passamos por muitas e pequenas aldeias, que mais parecem ter parado no tempo: Barbadelo, Morgade, Ferreiros, Miralles…. onde a natureza nos mostra toda a sua plenitude. É neste tipo de trilhos, tipo sobe e desce… trilhos muito técnicos tanto a subir como a descer… onde o cansaço de seis dias em cima da bike, em média 8horas/dia, começa a fazer-se sentir o cansaço.

Chegamos a Portmarin, após uma descida, rápida mas muito técnica.. atravessando o Rio Miño (rio Minho)… iniciando a subida até ao centro da cidade, onde repusemos os líquidos com os já famosos “champoos”.

Aqui decidimos ir dormir a Palas del Rey… pouco mais de 30Km, o que era isto comparado com as centenas que já tínhamos feito?! Meus amigos, foram dos 30km mais duros do caminho… continuando com a mesma tipologia atrás descrita, nos contínuos “sobes e desces” muito técnicos, em que o cansaço era visível nos rostos e com vento lateral muito forte… e foi assim que chegámos a Palas del Rey, cidade com todo o tipo de serviços, havendo inclusive serviços exclusivos para peregrinos, aliás foi um importante enclave nas peregrinações na idade média. Ainda tentámos ficar num desses lugares, mas pelo adiantado da hora, alguns já se encontravam lotados, optámos pela residencial associada a um bar com o nome de “Bar Britania”, não pelas condições, mas sim pelo preço. Aqui por unanimidade, o nosso benjamim, o BMalheiro teve direito a ter um quarto só para si… eh eh…

Aproveito, para quem ler estes relatos, se por acaso passarem por aqui, evitem esta residencial, nota-se que é uma coisa adaptada aos peregrinos… tem os mínimos essenciais mas de muita má qualidade, tanto em termos de quartos como de instalações sanitárias….

Amanhã… chegada a Santiago.

Todas as Fotos aqui >>